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Existir já era resistência. Ser vista foi revolução.
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Ygona Moura foi uma dessas figuras que, mesmo em pouco tempo, deixou uma marca profunda na internet brasileira. Trans, preta, gorda, periférica e cheia de atitude, ela virou meme, virou manchete, virou símbolo — e, infelizmente, também virou estatística.
Nascida em 10 de março de 1997, em São Paulo, Ygona enfrentou desde cedo o peso de múltiplas opressões. Aos 16 anos, se assumiu gay. Aos 20, se reconheceu como mulher trans. Foi rejeitada pela família, sofreu violência física e psicológica, e chegou a ser expulsa de casa após uma tentativa de homicídio em sua própria família. Sem apoio, recorreu à prostituição para sobreviver. Mesmo assim, não perdeu o brilho — e foi justamente esse brilho que a internet abraçou.
Ygona viralizou com vídeos espontâneos, debochados e cheios de carisma. Frases como “aglomerei mesmo” e “fui pra balada” viraram bordões. Ela era a personificação do caos divertido — mas também da contradição. Durante a pandemia, participou de festas e eventos, muitas vezes remunerados, mesmo com os riscos evidentes. Era fácil julgar, mas difícil ignorar o contexto: uma mulher trans, sem oportunidades, tentando sobreviver num país que constantemente nega dignidade às suas.
Em janeiro de 2021, após contrair Covid-19, Ygona foi internada na UTI do Hospital Cidade Tiradentes, em São Paulo. Lutou por cerca de duas semanas, mas não resistiu e faleceu no dia 27 daquele mês. A notícia abalou a internet, gerando debates sobre responsabilidade, empatia e o papel dos influenciadores. Meses depois, surgiram controvérsias sobre a causa exata da morte: um laudo médico indicou tuberculose como fator determinante, mas a discussão sobre sua conduta durante a pandemia já havia se espalhado.
Ygona não foi apenas uma influencer polêmica. Ela foi um reflexo cru da sociedade brasileira: vibrante, resiliente, mas também marcada por desigualdades e preconceitos. Sua história escancarou as falhas de um sistema que marginaliza corpos dissidentes e, ao mesmo tempo, consome suas narrativas como entretenimento.
No Dia Nacional da Visibilidade Trans de 2021, a Anistia Internacional Brasil destacou o caso de Ygona como exemplo do descaso do Estado com pessoas trans e negras. Sua vida e morte se tornaram símbolo de uma luta maior por reconhecimento, respeito e justiça.
Ygona não foi só um meme, nem só uma polêmica de internet. Ela foi uma sobrevivente. Ela foi expulsa de casa em plena pandemia pela própria família. Sozinha, rejeitada e em risco, ela tentou se abrigar em um lar de acolhimento trans, mas nem isso deram paz pra ela. A internet perturbava tanto ela que mandavam iFood sem parar pra ONG onde ela estava, lotando de entregadores na porta. Resultado? Ela teve que sair. Acabou indo morar numa kitnet bem simples, enfrentando tudo com a coragem de quem já tinha apanhado demais da vida. E foi nesse contexto — sem renda, sem apoio, sem ninguém — que ela começou a aceitar convites pra festas. Era isso ou não ter como pagar o aluguel, como colocar comida na mesa. Era sobrevivência, não irresponsabilidade.
Ygona Moura viveu intensamente, riu alto, dançou com vontade e falou o que quis. Sua ausência é sentida, mas sua voz ecoa — nos memes, nas discussões e, principalmente, na urgência de construir um mundo mais justo para todas as Ygonas que ainda virão.

























Ygona Moura
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